Seja um Agente de Mudança - Veja estes recursos para o ajudarem a construir designs mais éticos

Setembro 18, 2023

Este artigo foi escrito em comemoração do World Interaction Design Day 2023 com o tema Ética, Equidade e +Responsabilidade.

O papel do designer de hoje vai muito além de simplesmente criar interfaces e experiências bonitas. Já não podemos desenhar sem considerar as consequências de como o que estamos a criar impacta os indivíduos, a sociedade e o mundo. 

Como designers temos o poder de escolher se queremos desenhar um processo de offboarding tão fácil com o de registo, se queremos manipular emocionalmente os nossos utilizadores para os fazer comprar ou assinar algo que não pretendiam, se queremos aplicar um contraste de cor e um tipo de letra acessíveis para que mais pessoas consigam perceber o nosso conteúdo, entre outras coisas.

Embora não haja um código de ética oficial para o design digital, existem várias áreas nas quais os designers se devem focar para desenharem produtos éticos. Nós resumimo-las da seguinte forma: 

O Design Ético…

- É Transparente

- Prioriza a Acessibilidade e a Inclusividade

- É Centrado no Ser Humano

- Encoraja o Co-Design

- É Sustentável

O design ético é um termo tão abrangente que nos podemos sentir bastante exacerbados. Devem estar a perguntar-se - como é que posso de facto praticar o design ético no meu trabalho diário?

Felizmente, existem muitas estruturas, ferramentas e melhores práticas que podemos aproveitar. Seleccionámos algumas delas e organizamo-las aqui ⬇️.

Fotografia de Aleks Dahlberg via Unsplash

O Design Ético é Transparente

A transparência é chave para um design ético. Muitas vezes pressionados por stakeholders para cumprir os objectivos do negócio, os designers recorrem ao uso de truques manipuladores destinados a fazer com que os utilizadores façam algo que não pretendiam, como comprar ou registar-se (padrões obscuros). Ultimamente, as declarações de privacidade e as políticas de protecção de dados têm vindo a minar a confiança das pessoas nas marcas. São intencionalmente difíceis de compreender e não explicam porque é que a empresa precisa das informações dos utilizadores ou como as irá usar. São também praticamente impossíveis de evitar se os utilizadores querem mesmo usar o website ou a app, o que muitas vezes resulta na partilha dos seus dados pessoais com terceiros.

A transparência cria um sentido de confiança e, quando os utilizadores confiam numa marca, é mais provável que se tornem consumidores leais.

"A menos que haja alterações na forma como comunicamos a recolha de dados, as decisões de algoritmos e os modelos de publicidade, a confiança continuará a diminuir. E é aí que os designers podem usar as suas capacidades para ajudar a assumir a responsabilidade pela forma como recolhemos e usamos os dados das pessoas e ajudar a restaurar a confiança.”

Sheryl Cababa em “It’s time to start designing for transparency”

💡 Recursos: 

• 📚 We, the Data — Human Rights in the Digital Age de Wendy H. Wong - Um apelo para alargar os direitos humanos para além do nosso eu físico - e porque precisamos re-inicializar os direitos no nosso mundo com uso intensivo de dados.
• 📚 Tragic Design de Jonathan Shariat and Cynthia Savard Saucier - Compreender como produtos mal desenhados podem irritar, entristecer, excluir ou até matar as pessoas que os usam, e o que se pode fazer para evitar erros semelhantes. 
• 📚 The Ethical Design Handbook de Trine Falbe, Kim Andersen and Martin Frederiksen - Com técnicas práticas para fazer interfaces honestas que funcionam para produtos digitais e ajuda para fazer crescer o negócio de forma sustentável - sem padrões obscuros - e cumprir o RGPD e o CCPA. 
• Deceptive Patterns - Uma fonte para tudo sobre os padrões obscuros, onde pode encontrar os padrões obscuros explicados com exemplos. 
• Design for Transparency - Um artigo onde Sheryl Cababa propõe cinco princípios para desenhar com transparência. 
• Design Ethically - Uma estrutura de design ética e uma biblioteca de actividades para ajudar os designers a integrar o design ético na sua prática. 
• Ethics for Designers - Um kit de ferramentas online para ajudar os designers a desenvolverem um conjunto de capacidades éticas: sensitividade moral, criatividade moral e advocacia moral. 
• The Ethics Centre - Princípios a serem considerados quando se desenha tecnologia ética de forma a evitar erros éticos. 

Fotografia de Annie Spratt via Unsplash

O Design Ético prioriza a Acessibilidade e a Inclusividade

A acessibilidade e a inclusividade são assuntos do momento, particularmente na União Europeia (UE) onde, a partir de 2025, as empresas terão a obrigação legal de ter produtos digitais acessíveis.

Para um designer a dar os primeiros passos na acessibilidade, o primeiro passo importante é compreendermos a diversidade de pessoas que usam ou podem vir a usar o produto, e como o utilizam (frequentemente recorrendo a tecnologias assistivas). Provavelmente iremos ficar surpreendidos como uma simples decisão de design (digamos, por exemplo, a escolha da palete de cores) pode impedir uma pessoa com problemas de visão de perceber o conteúdo no website. Existem vários vídeos no YouTube, TikToks e Reels onde podemos ver como pessoas com deficiência navegam na internet e com o que normalmente têm de lidar.

Depois podemos começar a aprender como podemos desenhar produtos mais acessíveis. Neste departamento, as WCAG são um recurso importante. Depois de desenharmos ou se estivermos a avaliar a acessibilidade de um website existente, podemos tomar partido de listas de verificação e avaliadores automáticos para nos assegurarmos que estamos a desenvolver da forma correcta. Outra forma importante de avaliar a acessibilidade é realizar testes de usabilidade com pessoas com deficiência.

“O poder da Web está na sua universalidade. 

O acesso por todos independentemente da sua deficiência é um aspecto essencial.”

Tim Berners-Lee, Director do W3C e inventor da World Wide Web

💡 Recursos: 

• 📚 Accessibility for Everyone de Laura Kalbag - Compreender as deficiências e limitações e aprender como planear, avaliar e testar design acessível. 
• 📚 Mismatch — How Inclusion Shapes Design de Kat Holmes - Como métodos inclusivos podem originar soluções de design elegantes que funcionam para todos. 
• Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) - O standard internacional para tornar o conteúdo web mais acessível a pessoas com deficiência. 
• The A11Y Project - Um esforço conduzido pela comunidade para facilitar a acessibilidade digital. Podemos encontrar uma lista de verificação para ajudar a melhorar a experiência para todos os que utilizam os nossos sites, e uma lista com uma série de recursos (software, livros, blogs, ferramentas online) sobre acessibilidade. 
• Inclusive Design Toolkit - Este kit de ferramentas foi desenvolvido por diferentes investigadores da Universidade de Cambridge e aborda o que é o design inclusivo, e porque é importante, explica os tipos de capacidades dos utilizadores, oferece ferramentas (para simular a redução de visão, por exemplo), apresenta personas digitais que destacam alguns dos factores que afectam a exclusão digital, e muitos outros recursos. 
• Microsoft Inclusive Design - Esta metodologia considera toda a diversidade humana aprendendo com pessoas com várias perspectivas. Aprendemos sobre os princípios de design inclusivo e temos acesso a um conjunto de ferramentas e actividades.

Fotografia de Dan Cook via Unsplash

O Design Ético é Centrado no Ser Humano

O especialista em UX William Hudson faz uma observação interessante sobre o carácter humano e porque devemos falar de “design centrado no ser humano”, em vez de “design centrado no utilizador” (como também é designado). Ao usar o termo “utilizador”, parece que os estamos a desumanizar, fazendo-os soar apenas como outro componente do sistema.

O design centrado no ser humano envolve empatia e compreensão da situação individual de cada indivíduo, com necessidades e comportamentos particulares. Baseia-se principalmente no contacto directo com utilizadores reais, investigando, compreendendo e interagindo com eles. Colocar pessoas reais no centro do processo de design, e desenhar sistemas de acordo com o contexto real de uso do utilizador, irá permitir criar produtos mais úteis e utilizáveis.

“Desenhe para as pessoas como elas são, não como deseja que elas sejam.” 

Don Norman em jnd.org 

💡 Recursos: 

• Ledger of Harms - Esta colecção do Center of Humane Technology reúne estudos e artigos que mostram os efeitos claros de tecnologia prejudicial na sociedade actual, incluindo saúde física e mental, relações sociais e política. 
• The Field Guide to Human-Centered Design - Tudo o que precisa para compreender as pessoas para as quais está a desenhar, para ter brainstorms mais eficazes, para prototipar as suas ideias e, por fim, para chegar a soluções mais criativas. 
• Humane by Design - Guia para desenhar produtos e serviços digitais eticamente humanos, através de padrões focados no bem-estar do utilizador. 
• AI Ethics Cards - Uma ferramenta para ajudar as equipas a manterem-se centradas no ser humano enquanto desenham produtos, serviços e sistemas inteligentes e data-driven. 
• The Tarot Cards of Tech - Uma ferramenta para incentivar os criadores a pensar sobre os resultados que a tecnologia pode criar, desde consequências não intencionais até oportunidades para mudanças positivas. 
• The Little Book of Design Research Ethics - Um guia da IDEO sobre como procurar e partilhar insights sobre a vida das pessoas de maneira ética.

Fotografia de Vardan Papikyan via Unsplash

O Design Ético encoraja o Co-Design

E se, como designer, pudesse trabalhar com as pessoas para as quais está a desenhar? A metodologia de co-design consiste em chamar as pessoas para participarem no processo de design e colaborar activamente com elas para desenvolver soluções inovadoras, práticas e relevantes. Para aplicar o co-design é importante tirar partido de ferramentas que geram ideias e ajudam os participantes a articulá-las. 

“O Co-design é mais do que um processo. É um movimento social focado em desafiar e mudar estruturas de poder desiguais. Desenhar com, não para pessoas.” 

KA McKercher em Beyond Stick Notes

💡 Recursos: 

• Co-design. tools - Ferramentas e tutoriais para ajudar a começar com o co-design.
• 18F Methods - Uma colecção de ferramentas para trazer o design centrado no ser humano para o projecto. As ferramentas estão organizadas nas quatro fases de um projecto de design - descobrir, decidir, executar e validar - com explicações e materiais para download. 
• Beyond Stick Notes - Pode encontrar tudo sobre o que é, e o que não é o co-design, o processo, os princípios e a mentalidade. Pode também aprender tudo isso no livro Beyond Sticky Notes is your guide to doing co-design, for real de KA McKercher. 
• The Co-Create Handbook - Co-Create é uma comunidade financiada pela UE onde se pode aceder a múltiplos recursos sobre co-design e fazer download deste manual para aprender mais sobre design colaborativo.

Fotografia de rafael albornoz via Unplash

O Design Ético é Sustentável

Se pensa que os websites ou apps que desenha são irrelevantes para a sustentabilidade está bastante enganado. Cada transmissão de dados usa electricidade, que é muitas vezes alimentada por carvão e emite CO2. Escolher um hosting verde e ecologicamente correcto, optimizar imagem e vídeo, usar menos fontes, oferecer uma opção de modo escuro, irá ajudar a reduzir a pegada de carbono do nosso website.

Para além de usar as suas capacidades para criar a melhor solução possível para as pessoas, os designers de hoje também precisam de considerar o impacto das suas escolhas de design na sociedade e no planeta. Podem certamente usar as suas capacidades para fazer uma mudança sustentável no mundo.

"A sustentabilidade, na sua essência, consiste simplesmente em garantir que aquilo que utilizamos e como utilizamos hoje não tem impactos negativos na capacidade das gerações actuais e futuras de viverem prosperamente neste planeta.” 

Leyla Acaroglu em “Quick Guide to Sustainable Design Strategies”

💡 Recursos: 

• 📚 Design for a Better World — Meaningful, Sustainable, Humanity Centered de Don Norman - O líder de design reconhecido mundialmente, Don Norman, reflecte como o comportamento humano levou o nosso mundo ao limite, e como o comportamento humano pode salvar-nos. 
• 📚 Sustainable Web Design de Tom Greenwood - Compreender como aspectos como ficheiros de imagem e linguagens de código podem afectar o impacto ambiental de um website, e como se pode fazer escolhas de design com baixo teor de carbono e mais eficientes em termos energéticos. 
• 📚 Designing for Sustainability de Tim Frick - Aprender como aplicar princípios de sustentabilidade para criar produtos e serviços digitais rápidos, fáceis de usar e com baixo consumo de energia. 
• 📚 Design is the Solution — The Future of Design Will Be Sustainable de Nathan Shedroff - Uma actualização do livro Design is the Problem de 2009, onde se aprende como o nosso processo de design pode levar a produtos mais sustentáveis, com novas estruturas, como 'Os Princípios Vivos' e 'A Economia Circular', e uma série de novas ferramentas. 
• Ethical Design booklet - Uma abordagem à digitalização socialmente sustentável, com canvas para orientar o design numa direcção ética. 
• IBM Design for sustainability - Os designers da IBM partilham os seus princípios orientadores de sustentabilidade e como aplicar a consistência de sustentabilidade. 
• Sustainability Guide - Este guia de um projecto da UE oferece inspiração e conhecimento reunindo informação, métodos e bons exemplos de como usar o design para alcançar um negócio sustentável e circular, bem como o desenvolvimento social. 
• Sustainable Design Strategies - Um artigo abrangente do Medium de Leyla Acaroglu sobre design sustentável e EcoDesign - uma ferramenta central na matriz de abordagens que viabiliza a Economia Circular. 
• Sustainable UX Network - Esta é uma comunidade de designers de todo o mundo destinada a trocar ideias sobre como promover e facilitar a sustentabilidade através do seu trabalho criativo. Também prepararam um kit de ferramentas com formas e métodos para trazer acções mais sustentáveis ao nosso trabalho.

...

Resumindo: Como designers, se queremos criar designs éticos, estes devem ser transparentes, acessíveis a todos, inclusivos, centrados no ser humano, sustentáveis e criados em colaboração com as pessoas. Tudo enquanto lidamos com os stakeholders da empresa e os seus objectivos de negócio. Uau! 😬

Embora possa parecer bastante avassalador, não temos de aprender tudo sobre design ético da noite para o dia. Contudo, podemos fazer um esforço gradual para compreender mais sobre como construir designs mais éticos e começar a agir como um agente de mudança.