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Design para um mundo melhor - Como trabalhar em conjunto e aplicar abordagens de design está a melhorar a vida das pessoas

Novembro 6, 2023

9 de Novembro é o Dia Mundial da Usabilidade 2023. O tema deste ano é Colaboração e Cooperação, e pretende focar-se em como podemos trabalhar juntos para criar soluções, tanto globalmente como localmente, para resolver os maiores problemas do mundo. Estes problemas estão intimamente relacionados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU).

Para assinalar este dia vamos reflectir sobre como as ferramentas e abordagens de design podem ajudar a desenvolver produtos e serviços que têm um impacto positivo na vida das pessoas. Vamos também destacar alguns projectos que trabalharam para alcançar um ou mais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

O que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas?

Os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: Nações Unidas

Adoptados pelas Nações Unidas em 2015, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável são uma colecção de 17 objectivos interligados que providenciam uma linha orientadora para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que até 2030 todas as pessoas desfrutam de paz e prosperidade. Os objectivos abordam e respeitam as três dimensões do desenvolvimento sustentável  -  social, económica e ambiental.

A natureza universal dos objectivos significa que se aplicam aos 193 países, não apenas aos países mais pobres e menos desenvolvidos. Cada objectivo deve então ser implementado de forma diferente em cada país, de acordo com o seu contexto sócio-económico. Tomando como exemplo o Objectivo 2: Erradicação da Pobreza - enquanto alguns países ainda se debatem com fome e má-nutrição, outros deveriam estar mais preocupados em promover uma dieta saudável e em combater a obesidade. No que diz respeito ao Objectivo 7: Energia Limpa e Acessível - enquanto certas populações estão preocupadas com o acesso à energia, outras consomem grandes quantidades e precisam de encontrar formas de reduzir o seu consumo e o impacto ambiental. 

Desenhar para atingir os ODS da ONU

Grupo de pessoas reunidas à volta de um portátil.

Fotografia de Tima Miroshnichenko via Pexels

"O dinheiro e a política são os facilitadores dos objectivos de desenvolvimento sustentável mais frequentemente citados, mas o dinheiro é desperdiçado e a política torna-se ineficaz se não incluirmos o design como um facilitador crítico dos objectivos de desenvolvimento sustentável. O design pode inspirar o investimento, influenciar a política e reunir partes interessadas de forma a promover a escalabilidade dos ODS.” 

Diane Hoskins em “Why Designing for the Human Experience Is Key to Advancing SDG Goals”

Os designers podem criar um impacto positivo em questões sociais, económicas e ambientais directamente ligadas aos ODS, através de parcerias com governos, ONGs ou com o sector privado.

Quando confrontados com um determinado problema, num contexto específico, os designers podem tomar partido das metodologias de design e ousar criar soluções radicalmente novas. Essas soluções nem sempre são fisicamente tangíveis, mas sim experimentadas no abstrato. Com uma mentalidade de co-criação, os designers podem trabalhar de forma diferente e melhor para iniciar a mudança, especialmente a nível local. Se as soluções forem bem pensadas e centradas nas pessoas que são directamente afectadas por elas, será possível fazer mais com menos recursos.

Que abordagens de design são comumente usadas?

Quando se trata de aplicar o design para atingir objetivos sustentáveis, vários conceitos e ferramentas são frequentemente utilizados. Embora possam ter nomes e âmbitos diferentes, há uma coisa que todos eles têm em comum: colocar as necessidades e desejos das pessoas no centro das prioridades.

Design Thinking

O design thinking é um processo para a resolução criativa de problemas que coloca as pessoas e as suas necessidades no centro. É um método altamente colaborativo e iterativo que consiste em cinco fases  -  Empatizar (obter insights reais sobre os utilizadores através de investigação), Definir (identificar as necessidades e problemas dos utilizadores), Idealizar (gerar ideias e desenvolver soluções), Prototipar (criar um protótipo da solução) e Testar (testar o protótipo e iterar para redefinir).

O design thinking ajuda-nos a construir soluções inovadoras com base nas necessidades daqueles para quem estamos a criar, e que podem ser usadas em empresas, governos, educação ou organizações sem fins lucrativos.

🛠️ Ferramentas que vale a pena consultar:

Human-Centered Design

Assim como o design thinking, o human-centered design envolve empatia e compreensão da situação de cada indivíduo, com necessidades e comportamentos específicos. Baseia-se principalmente no envolvimento directo com utilizadores reais, investigando, compreendendo e interagindo com eles. Colocar pessoas reais no centro do processo de design e desenhar sistemas de acordo com o contexto real de utilização do utilizador permite-nos criar produtos mais úteis e utilizáveis.

Como é que se compara com o design thinking? - Enquanto o human-centered design está fortemente ligado à boa usabilidade e à experiência do utilizador, o design thinking está mais focado em encontrar soluções inovadoras para problemas complexos. O design thinking vai além de ecrãs, sites ou aplicações, pois pode ser usado para desenvolver soluções para uma ampla gama de desafios – sejam eles empresariais, económicos, governamentais, sociais ou ambientais. 

Para uma visão completa das características comuns e principais diferenças das duas abordagens, consulte o artigo “Design Thinking — new old creativity”.

🛠️ Ferramentas que vale a pena consultar:

Design Sistémico

A própria existência dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável é prova dos muitos desafios que o mundo enfrenta hoje. Problemas ambíguos e de grande escala, que envolvem múltiplas partes interessadas, permanecem sem solução e simplesmente não existe uma solução simples para resolvê-los. O Design Sistémico é um conceito recente que surgiu da necessidade de enfrentar essas questões complexas.

Enquanto o pensamento sistémico nos ajuda a compreender sistemas dinâmicos e de ordem superior, ao compreender toda a estrutura e como os diferentes elementos interagem entre si, o design thinking é usado para resolver problemas definidos. Quando enfrentamos desafios mais ambíguos, certamente ganhamos com a combinação dos dois. É por isso que o design sistémico integra o pensamento sistémico e as práticas de design. Ambos os domínios contribuem um para o outro e são combinados para criar novas perspectivas, processos e ideias.

🛠️ Ferramentas que vale a pena consultar:

Co-Design

Em vez de ter autoridades públicas a planear áreas urbanas, porque não envolver as comunidades locais para ajudar a moldar o desenho dos seus próprios bairros? E quando se trata de serviços de saúde, porque não envolver os pacientes, os prestadores de cuidados de saúde e os administradores na concepção de melhores experiências para os pacientes?

A metodologia de co-design consiste em chamar as pessoas para participarem no processo de design e colaborar activamente com elas para encontrar soluções inovadoras, práticas e relevantes. Para aplicar o co-design é importante aproveitar as ferramentas que geram ideias e ajudam os participantes a articulá-las.

O co-design pode ser particularmente relevante no sector público, onde trazer membros da comunidade para colaborar com especialistas pode levar a resultados mais benéficos.

🛠️ Ferramentas que vale a pena consultar:

Tomar partido do design para obter impacto positivo - alguns exemplos

Acabar com a pobreza, assegurar que todos têm acesso a água potável e ao saneamento, garantir sociedades pacíficas e justas  -  há problemas que parecem simplesmente demasiado difíceis de erradicar. No entanto, embora seja pouco provável que um único projecto resolva problemas tão complexos, trabalhar para alcançar um ou mais objectivos contribuirá certamente para facilitar a vida de indivíduos e comunidades em todo o mundo.

Um screenshot da Plataforma Izzistrit.

Fonte: iF Design Award

O Prémio iF de Impacto Social apoia projectos de design que contribuem para melhorar a nossa sociedade e alcançar os Objetivos Sustentáveis da ONU. Em 2022, um dos projectos vencedores foi o Izzistrit, uma plataforma desenvolvida por uma empresa Brasileira que auxilia pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida a mover-se com segurança pelos espaços urbanos com independência e autonomia. Através de mapas digitais, um chatbot e uma aplicação alimentada por IA, as pessoas podem obter as rotas mais adequadas e são recomendados estabelecimentos comerciais acessíveis, tudo adaptado a cada deficiência. Este projecto está claramente alinhado com o Objetivo 10: Redução das Desigualdades e é um excelente exemplo de como a tecnologia pode ser usada para o bem e ajudar a melhorar a vida das pessoas com deficiência.

Um membro do staff da Alight num campo de refugiados a reunir o feedback de um refugiado num tablet.

Fonte: IDEO.org

Em 2016, a IDEO.org (um estúdio de design sem fins lucrativos que desenvolve produtos e serviços em conjunto com organizações comprometidas em criar um mundo mais justo e inclusivo) e a Alight (uma organização focada em ajudar refugiados e fornecer ajuda humanitária em desastres) formaram uma parceria para desenvolver uma plataforma para rastrear a satisfação do cliente entre refugiados em tempo real. Chama-se Kuja Kuja e permite que as organizações humanitárias priorizem as pessoas que servem e melhorem os serviços que prestam. A equipa da Alight viaja pelo campo de refugiados com tablets recolhendo dados de satisfação do cliente numa app e sugestões sobre como melhorar o serviço. Essas sugestões são agregadas num painel que mostra as perspectivas das pessoas em tempo real.

Ilustração de caras de mulheres.

Fonte: ThinkPlace

A ThinkPlace, uma agência de design Australiana que trabalha com governos, empresas do sector privado e ONGs em todo o mundo, partilha como trabalharam com a Fundação Bill & Melinda Gates para identificar oportunidades para fornecer um melhor acesso a soluções de higiene menstrual acessíveis e de alta qualidade a Nigerianos com níveis de rendimento médio-baixo e baixo. A ThinkPlace conduziu um estudo etnográfico profundo onde interagiram com mulheres Nigerianas de diferentes faixas etárias, locais e grupos sócio-económicos que partilharam a sua experiência quotidiana sobre o seu período, a sua vida e os desafios que enfrentam na gestão da higiene menstrual. A sua abordagem centra-se em envolver activamente as pessoas na investigação:

"Não reunimos apenas insights dos participantes, mas também os envolvemos numa parceria contínua e produtiva, capacitando-os a serem uma parte activa na formação do seu futuro e do mundo. Estamos a levá-los além de sujeitos de investigação, para se tornarem verdadeiros co-criadores.”

Os designers têm o que é preciso para fazer a diferença

Criatividade, conhecimento interdisciplinar, pensamento amplo. Estas são algumas características que colocam os designers e investigadores numa posição única para enfrentar os problemas mais difíceis do mundo abordados pelos ODS.

Com o tempo, os designers deixaram de simplesmente projectar coisas para lidar com problemas em diferentes áreas. É por isso que empresas, governos e organizações não governamentais estão a contratar designers que aproveitam ferramentas e abordagens de design para resolver problemas complexos através da inovação.

"Design é planear para acção."

Charles Eames

Acções tomadas em conjunto  -  quer essas acções criem espaços verdes projectados pela comunidade para os residentes de Brooklyn e do Bronx ou desenvolvam uma empresa social sustentável de água e saúde para enfrentar os desafios de saúde das comunidades de baixo rendimento em Nairobi  -  são passos significativos para tornar este sonho de um mundo melhor, mais justo e mais sustentável para todos, um pouco mais tangível.

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